Cerca de 24 milhões de crianças no Brasil estão na faixa etária mais
importante para a detecção e correção de irregularidades visuais que
podem garantir ou impedir o desenvolvimento da visão que os acompanhará a
vida inteira. É nesta etapa da vida que se recuperam erros de refração
como miopia, astigmatismo e hipermetropia. Também a ambliopia e casos
mais severos como a retinopatia da prematuridade, a catarata congênita e
o estrabismo se manifestam nesta fase. "Depois, fica difícil e a visão
pode estar comprometida para sempre", alerta a oftalmopediatra Dorotéia
Matsuura.
De acordo com o IBGE, quase 13% da população brasileira é
formada por crianças que estão na faixa de zero a seis anos de idade.
Para esse expressivo grupo que sucederá a geração de adultos de hoje, a
médica sugere que o primeiro check up oftalmológico seja feito antes de
completar um ano de vida e, se os exames estiverem normais, um retorno
anual ao oftalmologista. "Se a criança já for usuária de óculos ou tiver
alguma irregularidade, por exemplo, o ideal é visitar o oftalmologista a
cada seis meses", orienta.
Mas a primeira atenção aos olhos de uma criança deve ser ainda
na maternidade, quando os pais precisam providenciar o "teste do
olhinho" que, já é obrigatório por lei em alguns estados e deve ser de
aplicação nacional, se o projeto 240/2007, que tramita no Senado
Federal, for aprovado e sancionado. Dorotéia lista que o teste do
olhinho é a avaliação que vai descartar a presença de tumores, catarata
congênita, glaucoma congênito, doenças infecciosas ou qualquer
malformação. "Mas não identifica erros de refração, como a necessidade
de correção com óculos ou estrabismo", assinala.
Quando o bebê nasce prematuro, outro cuidado é fundamental antes
de sair da maternidade. O exame de fundo de olho nos primeiros dias vai
avaliar os impactos do nascimento prematuro na visão. "Este exame é
importante, realiza um mapeamento da retina para detectar se há
retinopatia da prematuridade", informa.
Até um ano de idade, também é possível que se manifestem as
conjuntivites neonatal, "não são raras", diz a médica ao destacar que a
obstrução das vias lacrimais são freqüentes no mesmo período.
O estrabismo manifesta-se a partir dos três meses de idade e
deve ser tratado precocemente, porque como a ambliopia (olho preguiçoso)
e a alteração de grau podem impedir o desenvolvimento visual da
criança.
Conforme a oftalmopediatra, o estrabismo pode ser percebido aos
três meses ou mais tardiamente entre dois e seis anos de idade que é
decorrente da hipermetropia.
Quando o diagnóstico é de catarata congênita, isto é
opacificação do cristalino desde os primeiros dias de vida, Dorotéia
relata que os oftalmologistas fazem o procedimento de retirada da lente
natural opacificada e a correção é feita com óculos até os cinco anos,
quando a criança já estará apta a fazer o implante de lente intraocular.
"Este processo é indicado, porque como a criança, o olhinho também
cresce e esperar é a melhor forma de evitar que sejam feitos vários
implantes para substituição da lente", explica.